sexta-feira, 22 de julho de 2011

Reforma da reforma na Canção Nova, I: É importante que voltemos à piedade Eucarística

Sabemos que não há Igreja se não houver Eucaristia. Precisamos resgatar a fé da Igreja, a fé na presença Eucarística de Nosso Senhor Jesus Cristo.

É evidente que eu sempre tive muita devoção pela Eucaristia. A ordem de Jesus era para que celebrássemos a Santa Missa, e a verdadeira devoção Eucarística é celebrar a Santa Missa e comungar [o Corpo de Cristo]. Já a Adoração Eucarística é muito legítima, mas foi uma invenção do segundo milênio. Essa prática [Adoração Eucarística] é algo recente, por isso as pessoas acham que ela não é obrigatória. Tenho de confessar que eu, segundo as normas litúrgicas, fiz uma capela no seminário de Cuiabá sem o sacrário; nós o colocamos numa capelinha menor, pois a norma litúrgica diz que o lugar onde se celebra a Eucaristia não deve haver a presença do sacrário.

Valorizando o passado, eu estava muito tranquilo na minha devoção Eucarística, porque celebrava a Missa e comungava, mas devo confessar que quase nunca eu adorava a Jesus Sacramentado. Mas o que mudou na minha vida para que eu mudasse de opinião? Foi o pontificado do Papa Bento XVI. Quando ele foi eleito Papa, duas coisas aconteceram na minha vida. Primeira: ele tomou atitudes que deram um curto-circuito na minha cabeça: começou a insistir na Adoração Eucarística.

Na vigília com o Papa, ocasião do encerramento do Ano Sacerdotal, diante de cerca de 20 mil sacerdotes, Bento XVI expôs o Santíssimo; e nós ficamos ali, de joelhos, rezando. Naquele dia, o Pontífice conseguiu fazer com que milhares de padres colocassem seus joelhos no chão e adorassem a Jesus.
Precisamos entender que a Adoração Eucarística é algo urgente.
Foto: Maria Andréa/cancaonova.com

A segunda coisa que mudou em mim com a eleição de Bento XVI é que agora João Paulo II está no céu. Acho que ele conseguiu fazer na minha cabeça o que não conseguiu quando estava vivo. E nós precisamos entender que a Adoração Eucarística é algo urgente. Não é um devocionismo; ela faz parte da própria fé da Igreja.

Papa Bento XVI escreveu a Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis - "O sacramento do amor". Nela, ele cita uma frase do bem-aventurado Agostinho, santo no primeiro milênio: “Ninguém coma aquela carne sem que antes tenha adorado. Se não adorar, estará pecando”; ou seja, se você quer comungar, tem de adorar ao Santíssimo Sacramento.

Por que essa prática [Adoração Eucarística] é tão importante? Porque, no primeiro milênio, a Igreja vivia uma fé inabalável. Os cristãos acreditavam na presença de Jesus na Eucaristia. Durante os mil primeiros anos, não havia heresia, todos acreditavam e iam à celebração da Santa Missa. Nela, adoravam e comungavam o Corpo de Cristo. Acontece, porém, que, no segundo milênio, surgiram inúmeras heresias que, somadas, culminaram na heresia protestante, quando Lutero negou a existência de Jesus Cristo na Eucaristia.

Jesus disse: “Tomai todos e comei, esse é o meu corpo. Tomai todos e bebei, esse é o meu sangue”. Deus está presente por imensidade em todos os lugares; no entanto, a presença de Jesus na Eucaristia tem mais consistência, tem mais ser; ela é mais presença, mais ativa.

É impressionante que, justamente na época em que começaram as heresias da Eucaristia, começaram também a surgir os Milagres Eucarísticos. Nós necessitamos urgentemente da Adoração Eucarística; precisamos voltar a dobrar nossos joelhos diante de Deus, a fazer visitas ao Santíssimo Sacramento.
"A presença de Jesus na Eucaristia tem mais consistência, tem mais ser", afirma sacerdote
Foto: Maria Andréa/cancaonova.com

Quando Nossa Senhora apareceu em Fátima, em 13 de maio 1917, ela abriu seus braços e um raio de luz divina inundou o coração de três crianças: Lúcia, Jacinta e Francisco. Elas receberam a graça divina. Instintivamente, prostraram-se diante de Deus e rezaram: “Ó Santíssima Trindade, eu vos adoro, eu vos amo no Santíssimo Sacramento”. Essa oração é a confirmação daquilo que Deus já vinha fazendo no coração daquelas crianças.

Para preparar o coração delas, o Senhor já havia mandado o Anjo da Paz, que se prostrou, reverenciando a Deus; e as crianças também fizeram o memo. Esse ser celeste as ensinou a rezar: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão por aqueles que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam”. Nós precisamos repetir essa oração diante do Santíssimo Sacramento.

Em outra aparição, o anjo ensinou aos pequenos: “Santíssima Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo –, adoro-Vos profundamente e Vos ofereço o preciosíssimo corpo, sangue, alma e divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra em reparação aos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores”.

Precisamos pedir perdão a Deus pelas blasfêmias, oferecer nossa adoração em reparação ao Santíssimo Coração de Jesus. Durante a adoração é importante compreendermos o quanto ela está fazendo em nós. É importante que voltemos à piedade Eucarística.

Louvo a Deus pelo Papa Bento XVI que mudou a minha vida, minha visão sobre a Adoração Eucarística. Se não voltarmos a tratar a Eucaristia com toda piedade e adoração que ela merece, perderemos nossa fé em Jesus Eucarístico.

www.salvemaliturgia.com.br
Transcrição e adaptação: Michelle Mimoso

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Cerimoniário

Algum tempo atrás um leitor nos mandou uma dúvida sobre a função do cerimoniário, como segue:
"Tenho dúvidas sobre a função do cerimoniário. Gostaria de ter um maior esclarecimento, e se tiver condições, me envia alguma sugestão de material ou até mesmo um manual de como exercer essa função. Se possível, vocês poderiam criar uma postagem especial sobre essa função.
(...)
Paz e Bem"

Com o objetivo de esclarecer dúvidas que provavelmente são comuns a vários dos nossos leitores, responderemos tal dúvida publicamente.

O que é cerimoniário?
Cerimoniário é um dos ofícios da liturgia no rito romano, assim como os diáconos, os acólitos, o sacristão, etc. Sua função é fazer com que a celebração brilhe pelo decoro e ordem, para isso o cerimoniário deve trabalhar em íntima colaboração com o sacerdote celebrante e as demais pessoas que tem por função coordenar as diferentes partes da celebração: o sacristão, o regente do coro, o coordenador dos acólitos, etc.

O cerimoniário deve ser perfeito conhecedor da liturgia, suas leis e preceitos, sua história e sua natureza. Deve levar em conta na preparação e na execução da cerimônia, não apenas sua organização de forma prática, mas também o aspecto pastoral. Nao deve perder de vista a tradição litúrgica da Igreja universal e os pios costumes da Igreja particular.

Cerimoniário é a mesma coisa que Mestre de Cerimônias?
Não necessariamente. Mestre de Cerimônias é o primeiro dentre os cerimoniários. Geralmente as dioceses tem um mestre de cerimônias oficial, mas cada celebração pode ter seu mestre de cerimônias. No Vaticano, o Mons. Guido Marini é o mestre de cerimônias litúrgicas pontificais; além dele, existem outros onze cerimoniários.

Mons. Guido Marini (sexto da direita para a esquerda) com o colegio de cerimoniários do Sumo Pontífice em 2009
Quem pode ser cerimoniário?
Atualmente, não há nenhuma restrição acerca de quem possa ser cerimoniário, basta ser perfeito conhecedor da liturgia e suficientemente esclarecido acerca da necessidade pastoral. Podem ser presbíteros, diáconos ou leigos; existem casos até de um arcebispo desempenhando tal ofício.

Quantos devem ser os cerimoniários?
Não existe uma quantidade determinada de cerimoniários, mas sabe-se que não devem ser muitos, principalmente nas celebrações paroquiais. Afinal de contas, trata-se de um ministério que tem como principal função coordenar as diferentes partes da celebração; e não parece muito eficaz que em uma celebração haja mais pessoas coordenando do que exercendo outros ministérios.
Cerimoniário é Acólito?
Ainda que para muitos a diferença entre um e outro seja clara, cabe esclarecer a quem veja "cerimoniário" como um nome mais belo para a função de acólito. Acólitos, ainda que não instituídos, são todos aqueles que servem ao celebrante e os diáconos na missa; são os acólitos que exercem as funções de turiferário, naviculário, cruciferário, ceroferários, baculífero, mitrífero, librífero, etc.

Os cerimoniários são aqueles que coordenam as celebrações, não apenas os ministério dos acólitos, mas todas as suas partes. Apresentam-se, naturalmente, em numero muito inferior ao dos acólitos e desempenham papéis diferentes deles. Nada impede, entretanto, que alguém que sirva ordinariamente como acólito, oficie como cerimoniário nas ocasiões paroquiais mais solenes.
O que veste o cerimoniário?
O cerimonial dos bispos diz que o cerimoniário se veste com alva (pode ser acompanhado por alva e amito) ou com veste talar e sobrepeliz. Num ou noutro caso, seria conveniente que a veste dos cerimoniários se distinguissem, ao menos em algum detalhe da veste dos acólitos.

O cerimonial diz ainda que se quem exerce a função de cerimoniário for da ordem dos diáconos pode vestir-se da forma habitual para os diáconos oficiantes, com dalmática. Creio ser um pouco inapropriada esta vestimenta, pois a função dos diáconos é distinta da função dos cerimoniários, assim seria muito propício que se diferenciassem também pelas vestimentas.

Temos, ainda, o costume de, se o mestre de cerimônias é presbítero (ou, eventualmente, bispo), vista a estola para, junto com o presbitério e o bispo, confeccionar o crisma ou para o momento de impor as mãos durante a ordenação presbiteral.

Quais as funções do cerimoniário?
A função do cerimoniário deve iniciar-se bem antes da missa, verificando quais são os próprios da missa, quais partes serão cantadas, etc. Também é dever dos cerimoniários zelar para que algum possível livreto produzido para a celebração contenha os textos litúrgicos corretos e adequados àquela celebração.

Feito isso, combinar as funções com cada um daqueles que exerce algum ministério na celebração, por exemplo, se vamos usar o rito de bênção e asperção de água benta, devemos avisar os acólitos para preparar a caldeira e o hissopo e os cantores para que cantem vidi aquam ou algum outro canto adequado para o rito de asperção.

Nas procissões, não existe um lugar definido para os cerimoniários, eles devem se dividir ao longo dela a fim de auxiliar na movimentação de todos os ministros. Podem se colocar à frente do turiferário, guiando a procissão; um pouco atrás do celebrante, principalmente se for bispo, para cuidar das insígnias; podem se colocar à frente do concelebrantes, guiando-os para seus lugares que são distintos dos outros ministros. Podem ainda auxiliar o celebrante a subir ou descer os degruas, se for necessário. Podem atuar ainda na procissão das oferendas e do evangelho.

Dois dos cerimoniários pontifícios acompanhando o papa, um pouco atrás na procissão de entrada

Cerimoniários auxiliando o papa a descer os degraus durante a celebração da paixão

Os cerimoniários podem auxiliar na incensação, segurando a casula do celebrante para que não toque no turíbulo. E mesmo que não se segure a casula, o mestre de cerimônias, junto com o primeiro diácono acompanha o celebrante na incensação do altar.

Cerimoniário auxiliando um bispo na incensação do altar


Mudam as páginas do missal, tanto quanto o librífero leva o livro até a cátedra, quanto no altar.

Mons. Guido Marini mudando as páginas do missal no altar

Mons. Guido Marini mudando as páginas do missal na sédia

É, também, função do cerimoniário por e retirar as insígnias do bispo e entregá-las aos acólitos-assistentes.
Retirando a mitra do papa
Não estando o cerimoniário realizando nenhuma outra função, deve-se ter um ou dois cerimoniários juntos do celebrante para lhe servir em pequenas funções ou resolver algum imprevisto que surja durante a celebração.

O que não é função do cerimoniário?
Os cerimoniários não devem tomar as funções dos diáconos ou dos acólitos. Não devem segurar as pontas do pluvial nas procissões, preparar o altar, incensar o celebrante ou o povo, purificar os vasos sagrados, portar o Santíssimo Sacramento, etc.

Existe algum manual para o cerimoniário?
Tendo em vista que o cerimoniário deve ser "perfeito conhecedor da sagrada liturgia", creio que produzir um manual, como se faz para os coroinhas, para os MECE, pode ser danoso ao exercício dessa função. Dois grandes documentos sobre liturgia que fornecem um material muito rico para o estudo litúrgico e são indispensáveis para qualquer cerimoniário são o Cerimonial dos Bispos e a Introdução Geral do Missal Romano. Mas o cerimoniário deve buscar outros documentos no exercício de sua função e manter-se sempre atualizado.

Um costume antigo
É costume antigo, presente na forma extroardinária que também se pode manter na forma ordinária, que tudo que o celebrante pegue, seja pelas mãos do cerimoniário e que, ao entregar ou beijar o objeto beije a mão do celebrante e o objeto. Ao entregar um objeto, beija primeiro o objeto e depois a mão, ao pegar, primeiro a mão e depois o objeto.

Um cerimoniário beijando a mão de Bento XVI ao pegar de volta o hissopo



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