segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A beleza do rito litúrgico – por Pe. Mauro Gagliardi

O Zenit publicou hoje uma interessante análise do Pe. Mauro Gagliardi, professor de liturgia do Pontifício Ateneu Regina Apostolorum, dos Legionários de Cristo em Roma.


ROMA, domingo, 30 de janeiro de 2011 (ZENIT.org) - Hans Urs von Balthasar, na "Introdução" ao primeiro volume de sua monumental Herrlichkeit (Glória), em que desenvolveu uma teologia sistemática focada na importância da beleza, escreve:

"A beleza é a última palavra que o intelecto pensante pode atrever-se a pronunciar, porque esta não faz outra coisa a não ser coroar, como auréola de esplendor inapreensível, a estrela dupla da verdade e do bem e sua relação indissolúvel. Esta é a beleza altruísta, sem a qual o velho mundo era incapaz de ser compreendido, mas que deixou, na ponta dos pés, o moderno mundo dos interesses, abandonando-o à sua cobiça e tristeza. Esta é a beleza que já não é amada ou mesmo guardada pela religião, mas, como máscara arrancada de seu rosto, revela traços que ameaçam ser incompreensíveis para os homens. Esta é a beleza em que já não ousamos acreditar e que transformamos em aparência para que possamos nos libertar dela sem remorsos. Esta é a beleza, enfim, que requer (como é demonstrado hoje), pelo menos coragem e força de decisão da verdade e da bondade, e que não se deixa reduzir ao ostracismo e separar dessas suas duas irmãs sem arrastá-las consigo em uma misteriosa vingança" (Gloria. Una estetica teologica, Jaca Book, Milano 1994 [rist II.], pp. 10-11).

São palavras de clara condenação, por parte de um teólogo bem "moderno", desse espírito funcionalista típico da modernidade, que é incapaz de apreciar o valor das coisas belas que não tenham um reflexo imediato no campo da utilidade. Como compreender hoje o valor dos detalhes minuciosos que os artistas traçaram sobre as abóbadas de inúmeras igrejas e que são inúteis, porque não são perceptíveis para quem vê a abóbada da nave? Como justificar a fadiga dos mestres do mosaico que passavam dias compondo obras em locais não visíveis das catedrais medievais? Se a pintura ou o mosaico não serão vistos, não serão usufruídos por olho humano algum, de que adiantou tanta dificuldade? A beleza neste caso não implica uma perda de tempo e energia? E também: para que serve a beleza das vestimentas e dos vasos sagrados, se o pobre morre de fome ou não tem com que cobrir sua nudez? Essa beleza não tira recursos do cuidado dos necessitados?

E, no entanto, a beleza é proveitosa! E serve precisamente quando é gratuita, quando não busca uma utilidade imediata, quando é irradiação de Deus. Bento XVI recorda: "A relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo peculiar, no valor teológico e litúrgico da beleza. De fato, a liturgia, como aliás a revelação cristã, tem uma ligação intrínseca com a beleza: é esplendor da verdade (veritatis splendor). Na liturgia, brilha o mistério pascal, pelo qual o próprio Cristo nos atrai a Si e chama à comunhão. (...) A beleza da liturgia pertence a este mistério; é expressão excelsa da glória de Deus e, de certa forma, constitui o céu que desce à terra. (...) Concluindo, a beleza não é um fator decorativo da ação litúrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto atributo do próprio Deus e da sua revelação. Tudo isto nos há-de tornar conscientes da atenção que se deve prestar à ação litúrgica para que brilhe segundo a sua própria natureza" (Sacramentum Caritatis, n. 35).

Quem não sabe apreciar o valor gratuito (ou seja, da graça) da beleza, em especial da beleza litúrgica, dificilmente conseguirá realizar um ato adequado de culto divino. Continua Von Balthasar: "Quem, ao ouvir falar dela, sorri, julgando-a como um resíduo exótico de um passado burguês, desse se pode ter certeza de que - secreta ou abertamente - já não é capaz de rezar e, depois, tampouco o será de amar" (Glória, p. 11).

A beleza do rito, quando é tal, corresponde à ação santificadora própria da sagrada liturgia, a qual é obra de Deus e do homem, celebração que dá glória ao Criador e Redentor e santifica a criatura redimida. De modo conforme à natureza composta do homem, a beleza do rito deve ser sempre corpórea e espiritual, mostrar o visível e o invisível. Do contrário, ou se cai no esteticismo, que pretende satisfazer o gosto, ou no pragmatismo, que supera as formas na busca utópica de um contato "intuitivo" com o divino. No fundo, em ambos os casos, passa-se da espiritualidade à emotividade.

O risco hoje é menos o do esteticismo e muito mais o do pragmatismo informal. Temos necessidade, no presente, não tanto de simplificar e de extrair o supérfluo, mas de redescobrir o decoro e a majestade do culto divino. A sagrada liturgia da Igreja atrairá o homem da nossa época não vestindo cada vez mais as vestimentas da cotidianidade anônima e cinza, a que já está muito acostumado, mas vestindo o manto real da verdadeira beleza, vestidura sempre nova e jovem, que a faz ser percebida como uma janela aberta ao céu, como ponto de contato com o Deus Uno e Trino, a cuja adoração está ordenada, através da mediação de Jesus Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote.

http://www.salvemaliturgia.com/2011/01/beleza-do-rito-liturgico-por-pe-mauro.html

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